O 2º Pilar da Medicina do Estilo de Vida

É fato que uma dieta saudável, equilibrada e com a ingestão diária de todos os macros e micronutrientes necessários para manter a mais perfeita homeostase do nosso organismo, são fatores imprescindíveis na prevenção, no controle e no tratamento de diversas doenças crônicas.

Hoje existem muitas dietas, principalmente na internet, onde várias delas prometem verdadeiros milagres, para o emagrecimento e para a saúde do nosso organismo.

Mas será que elas são válidas mesmo para todos? Uma alimentação saudável, balanceada, necessita de dietas? O que diz a Medicina do Estilo de Vida sobre a alimentação?

A Dra. Cristiane Braga fez parte da 1ª turma do curso de “Medicina do Estilo de Vida” do Einstein e, neste vídeo abaixo, junto com o Dr. Eduardo Kanashiro, cirurgião plástico e fundador da Clínica Due, ela explica mais sobre o 2º dos 6 Pilares da Medicina do Estilo de Vida, que tem relação exatamente com a alimentação. Confira:

Alimentação – 2º Pilar da Medicina do Estilo de Vida

Dr. Eduardo Kanashiro: dando continuidade aos pilares da Medicina do Estilo de Vida, hoje a gente vai falar do 2º pilar que é a alimentação. Cris, qual é a importância desse pilar? Existe uma graduação entre os pilares?

Dra. Cristiane Braga: não, não existe essa graduação, todos eles têm peso importante, quando a gente fala de estilo de vida e em qualidade de vida, mas talvez o que tenha mais estudos a respeito seja esse pilar da alimentação, até porque existem várias dietas da moda, tem vários tipos de dieta, a mesma dieta que muda de nome, então eu acho que é importante a gente saber em que se basear.

Dr. Eduardo Kanashiro: essa é uma dúvida que eu tenho também. Essas dietas são muito faladas, estas dietas da moda, e vale a pena seguir alguma dieta dessas? Tem o seu valor ou realmente não serve pra nada?

Dra. Cristiane Braga: não, todas elas têm o seu valor, é óbvio que a gente tem que sempre individualizar as necessidades de cada paciente. Então um paciente tem uma necessidade maior de uma certa vitamina, um óleo do elemento, que não será a mesma no outro paciente.

Mesmo dos grandes grupos, dos macros grupos alimentares, que a gente chama de macronutrientes, gorduras, carboidratos e proteínas, mesmo esses macronutrientes precisam ser individualizados. Por exemplo: a dieta da proteína, a dieta paleolítica ou a dieta Cetogênica, que basicamente são as mesmas com alguns ajustes, elas podem ser utilizadas, elas devem ser utilizadas para algum grupo de pacientes ou algum grupo de indivíduos, mas não deve ser utilizada por outro grupo.

A gente tem que tomar muito cuidado.

Dr. Eduardo Kanashiro: mas tem umas mais esquisitas, tipo dietas da lua, dietas de não sei o que…

Dra. Cristiane Braga: …dieta do ovo, etc., sim, tem que ter cuidado. É óbvio quando a gente pensa em uma dieta que só introduz um grupo alimentar ou poucos grupos, por exemplo, dietas que você não pode comer nenhum vegetal, nem legumes nem frutas, você tem que pensar que alguma coisa está errada.

Dr. Eduardo Kanashiro: mas é melhor fazer uma dieta assim, tipo a pessoa engorda e, dependendo, faz a dieta e emagrece, fica bem e depois desencana ou tem uma outra maneira melhor da gente lidar com a alimentação?

Dra. Cristiane Braga: o ideal é realmente uma reeducação alimentar. É a pessoa ter uma consciência do que é alimentação e de como essa alimentação vai servir pra ela. A alimentação na verdade é o nosso combustível.

Então, se você quer ter energia, se você quer ter disposição, se você quer ter saúde, você tem que introduzir alimentos que irão te trazer tudo isso. Agora, essas dietas possuem o seu valor, quando há uma necessidade, uma grande perda ponderal, mas são dietas para serem utilizadas em um período bem transitório, em um período pontual, curto e não utilizá-las como uma forma de alimentação.

Dr. Eduardo Kanashiro: na Medicina do Estilo de Vida eles estudam muito dietas de lugares onde a expectativa de vida é maior, onde as pessoas são mais saudáveis. Explica um pouquinho quais seriam estas zonas, de pessoas, de países ou regiões de alimentação mais saudável.

Dra. Cristiane Braga: a Medicina do Estilo de Vida faz essa abordagem da alimentação “linkada” com um estudo científico. Isso tem muita correlação com essas zonas, que a gente chama de blue zones, que são estas zonas onde a característica da alimentação são bem parecidas entre elas. Por exemplo: tem uma na Califórnia, tem uma no Japão e elas se comunicam em características de hábitos, hábitos saudáveis.

Quando a gente fala em alimentação, nessas blue zones, o que a gente percebe é que basicamente ela é baseada em vegetais, o que a gente costuma chamar de plant-based-diet, que é uma dieta em que a maior proporção dos alimentos são alimentos vegetais, de origem vegetal.

Também tem gorduras, também tem carboidratos, também tem proteínas, mas a principal ingestão vem dos vegetais. As dietas, por exemplo, que tem um maior consumo de alimentos de origem animal, é gordura saturada, são carnes processadas, etc., está muito associada ao aumento do risco de doenças crônicas, que são as doenças que levam as principais causas de óbito, como por exemplo, a diabete, doença coronariana, hipertensão, obesidade, etc.

Quando a gente associa, quando a gente “linka” grupos alimentares que estão associados a maior risco dessas doenças, serão as carnes, que tem um maior índice de gorduras saturadas.

Essas regiões que têm uma maior qualidade de vida, uma maior expectativa de vida, elas consomem muito pouco, mas a carne é deixada, por exemplo, para um evento, para uma festa, para uma comemoração e no dia a dia a carne é quase encarada como um tempero para o alimento.

Até tem mais peixes, ovos, às vezes alguma ave, alguma carne vermelha, mas uma quantidade bem inferior.

Dr. Eduardo Kanashiro: acho que isso é bem interessante pra todo mundo levar em consideração e fazer as escolhas certas, tanto na hora de fazer uma compra no supermercado, na feira, quanto na hora que for se alimentar mesmo, se estiver em um restaurante, no dia a dia. A vida é feita de escolhas, então quando você tem consciência do que é melhor para você, pode fazer escolhas sem tanto sacrifício.

Dra. Cristiane Braga: uma coisa interessante também é em relação ao valor, porque às vezes os pacientes me procuram e falam “…ah, mas você não vai me passar uma dieta muito cara, com alimentos caros?…” e eu falo não, muito pelo contrário, principalmente, por exemplo, essa plant-based-diet onde você vai à feira e você compra muitos alimentos frescos, saudáveis, super nutritivos por um valor bem menor do que se você fosse ao mercado para comprar alimentos processados, industrializados.

Então vale muito essa orientação, é uma dieta saudável, uma dieta balanceada, e ela não necessariamente precisa ser cara, muito pelo contrário, ela é bem mais acessível do que com os alimentos processados.

Dr. Eduardo Kanashiro: uma coisa que eu vejo também é o erro dos pacientes que às vezes eles possuem essa noção, em relação a alimentos mais naturais, das suas necessidades e a importância do alimento mais natural, mas às vezes exageram, por exemplo, em frutas, “…ah, fruta é saudável, então vou comer à vontade…”. Isso a gente vê pacientes que chegam a ter síndrome metabólica por excesso de carboidrato, até “saudável”, que são as frutas.

Dra. Cristiane Braga: é, exatamente, as frutas têm uma quantidade grande até, dependendo da fruta, de carboidrato e quando você associa várias frutas, tipo uma salada de frutas ou até come várias porções de frutas no mesmo momento, isso faz com que a glicose do sangue aumente e em contrapartida o pâncreas começa a secretar uma quantidade grande de insulina. Então essa insulina, secretada de forma aumentada cronicamente, porque pacientes que têm hábitos de comer grande quantidade de frutas em momentos associados, acaba provocando também ou piorando uma síndrome metabólica, como o Eduardo falou.

Dr. Eduardo Kanashiro: e o que é síndrome metabólica? Conta pra eles…

Dra. Cristiane Braga: a síndrome metabólica é uma associação de eventos inflamatórios que podem desencadear a longo prazo alguma doença. Então, por exemplo, geralmente a síndrome está associada com aumento de triglicérides, com o aumento de colesterol ruim, que é o LDL, e uma baixa do colesterol bom, que é o HDL, pressão arterial aumentada e o aumento da glicemia.

Precedendo este aumento da glicemia, você tem um aumento da insulina cronicamente por longos períodos. Pacientes que medem a glicemia e falam “…ah, mas a minha glicemia está normal…”, sim, ela está normal porque o seu pâncreas tem produzido grandes quantidades de insulina para tentar neutralizar essa grande quantidade de glicose que está aumentada, que está no sangue.

É bem interessante isso de a gente perceber que a fruta, que é um alimento super saudável, rico em fibras e super bem-vindo, também não deve ser comido, não deve ser ingerido em excesso.

Dr. Eduardo Kanashiro: a insulina é como se fosse a chave que abre a porta da célula para a glicose entrar. Se a gente não tem insulina, não tem a chavinha, a glicose não entra na célula. A única célula que é capaz de absorver glicose sem a insulina é o neurônio, são as nossas células nervosas, para as demais a gente precisa da insulina.,

Normalmente o que funciona é uma chavinha, que vai lá e abre a porta para a glicose entrar. Quando a pessoa vai tendo resistência à insulina, seria como se ela precisasse de mais chaves, uma chave só não abre mais e ela vai precisar de várias chaves para poder abrir aquela mesma porta. Com várias chaves, vai abrir a porta e a glicose vai entrar, vai diminuir o açúcar do sangue ou o açúcar pode estar normal, só que às custas de um aumento muito grande da insulina. Por que que é ruim ficar com a insulina aumentada?

Dra. Cristiane Braga: por conta de 3 motivos básicos: 

  1. Porque a insulina é um hormônio altamente inflamatório. Quando a gente fala de inflamação, inflama as artérias, aumenta o risco de infarto, inflama o cérebro e a gente sabe hoje que o Alzheimer é o diabetes do cérebro.

Então essa insulina aumentada causa uma inflamação também a nível cerebral, e nos outros órgãos também. 

  1. A insulina é o hormônio anabólico e ela aumenta o estoque de gordura nas células. A gordura é aumentada principalmente na região do tronco, na região abdominal e na gordura visceral, gordura intra-abdominal que é uma gordura altamente prejudicial.
  2. O terceiro motivo, que também é um motivo bem importante, é que essa superprodução forçada do pâncreas pode causar uma falência dessa produção pancreática e quando causa esta falência, o pâncreas pára de produzir insulina e aí o paciente vira diabético. Deste modo, essa resistência à insulina, a longo prazo, é uma condição pré-diabetes.

Dr. Eduardo Kanashiro: quais são os sinais de uma pré-diabetes se o paciente não fizer o exame, onde normalmente se detecta esta condição, através da curva da glicose, curva da insulina, uma vez que só a glicose não adianta…mas tem algum sinal no corpo do indivíduo em que se conseguiria visualizar, verificar um sintoma mesmo, ou o que o paciente sente de diferente…existem sinais de alerta?

Dra. Cristiane Braga: isso varia muito, mas geralmente o paciente chega pra mim com uma dificuldade de perder peso ou ganho de peso mesmo com restrição calórica, que é uma queixa importante. Clinicamente a gente verifica algumas manchas que aparecem no pescoço, nas axilas e nas virilhas, o que a gente chama de acantose, que é uma mancha mais escura e as vezes aparecem alguns fibrominhas, algumas lesões pedunculadas, também nessa região de pescoço, axilas ou virilhas.

Dr. Eduardo Kanashiro: são tipo umas verruguinhas fininhas?

Dra. Cristiane Braga: sim, é como se fosse. Mas existem outros sintomas associados como queda de cabelo, descamação, acne, etc. São vários sintomas que podem ser considerados como um alerta, para essa alteração da insulina.

Dr. Eduardo Kanashiro: tem também a questão da hipoglicemia, onde às vezes a pessoa tem depois de alguma refeição, onde ela sente alguma tontura, mal-estar e seria uma hipoglicemia? E esta condição faz com que o paciente queira comer mais e isso vai virando um ciclo vicioso também, né?

Dra. Cristiane Braga: isso acontece, particularmente, quando o paciente ingere grandes quantidades de carboidratos, carboidratos simples com uma rápida absorção. Já nesse caso ocorre uma hipoglicemia reativa.

Dr. Eduardo Kanashiro: em uma consulta nutrológica, quais as orientações que você dá, qual o diferencial de passar por uma consulta nutrológica, no ponto de vista do paciente?

Dra. Cristiane Braga: eu acho que o nutrólogo tem uma abordagem prática da alimentação, onde é feita toda uma anamnese alimentar, mas ele também tem um entendimento da fisiologia, do metabolismo, então a gente avalia os hormônios, a gente avalia se existe alguma deficiência nutricional, a gente avalia se existe alguma questão inflamatória associada e depois dessa avaliação bem completa, é possível prestar uma orientação prática, muitas vezes até com lista de compras, o que o paciente pode comprar, o que não pode, com sugestões de receitas, culinárias, de fornecedores que vão fornecer alguns alimentos prontos ou semiprontos para o paciente…é bem interessante.

Eu sou suspeita porque realmente eu adoro o que eu faço, mas eu acho que eu consigo ajudar bastante o paciente nesse sentido.

Dr. Eduardo Kanashiro: tem os suplementos também, que são interessantes, são importantes…

Dra. Cristiane Braga: esses suplementos que o Eduardo bem falou, eles também devem ser individualizados. Não é porque eu estou tomando um que o “Eduardo” pode tomar também. Isto é uma questão bem pessoal, onde as minhas necessidades são únicas, ou seja, as minhas necessidades são únicas nesse momento em que eu vivo. Pode ser até que em um outro momento mudem essas necessidades, porque nós somos muito dinâmicos.

Então eu acho importante salientar também que os suplementos, vitaminas, etc., devem ser individualizados.  

Dr. Eduardo Kanashiro: legal! Então acho que é isso, pessoal. Se você tem alguma dúvida, alguma coisa, comenta aqui, escreve pra gente que a gente gosta muito de falar dessas coisas. Até o próximo vídeo, com os pilares da Medicina do Estilo de Vida.

Dra. Cristiane Braga: Beijos, cuidem-se!

Dr. Eduardo Kanashiro: tchau, tchau!

 

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